10 abril, 2007

O país que temos

Este texto (que não é da minha autoria - foi assinado por um tal Estou farto, no blogue Do Portugal Profundo) reflecte de forma muito séria a realidade portuguesa não apenas da actualidade, mas aquela que se foi construindo ao longo dos anos da dita democracia ou melhor da partidocracia vigente. É, de alguma forma, um texto amargurado, desencantado com a situação. Mas também significa que há gente atenta ao que se passa; que o poder não passa inóquo; ao cidadão; que o político também é vigiado apesar de contra ele apenas se poder agir nas eleições (por enquanto); que existe consciência cívica e política entre os cidadãos (apesar de muitos demonstrarem a sua ignorância política dizendo não ligo a política..., não pecebo de política..., ou aquela máxima salazarista a minha política é o trabalho....).
Há que despertar as consciências. Há que fazer ver às pessoas que tudo isto lhes diz respeito e que por tal têm uma palavra a dizer....
Nos combóios, nos autocarros, nas ruas e nos corredores comenta-se, à boca cheia, a hipocrisia do "curso" do Primeiro-Ministro. O tal Primeiro-Ministro que, na campanha eleitoral, nos prometia credibilidade, verdade e ... "Rumo". Pressões sobre os jornalistas - os representantes do 4º poder - avolumam-se enquanto se preparam leis para condicionar, ainda mais, a circulação da informação, tanto nos media como na internet. As escutas telefónicas e a censura, paulatinamente, instalam-se no dia a dia, para que não se possa incomodar o conforto e o bem estar dos detentores do poder. Assessores, cujo único fito é branquear a "imagem", pululam nos corredores dos diferentes poderes.
Oculta-se despudoradamente o que é desvantajoso para as diferentes clientelas político-partidárias. As decisões mais importantes ( OTAs, TGVs, OPAs, atribuição de subsídios, projectos de investimento) são tomadas nos silêncios, cumplices, dos gabinetes. O desgoverno geral da nação é patente, tanto pela ausência de politicas coerentes e credíveis, como pelas farsas dos "estudos", cujos autores se escamoteiam, que sustentam medidas, no mínimo, aberrantes, discricionárias e contraditórias, mas que interferem seriamente na vida dos governados, como são o caso de fecho de escolas, de maternidades e de centros de saúde, sem qualquer explicação cabal da justeza e acerto de tais medidas.
Promessas de apuramentos rigorosos de responsabilidades sucedem-se no caixote do lixo do esquecimento e da impunidade. Afirmações disparatadas e descredibilizadoras de membros do governo ("Allgarve", "jornalismo de sarjeta", etc etc etc) pululam diariamente nos media. O descalabro geral do país é patente e gritante em todas as esferas: justiça, segurança, educação, saúde, fiscalidade, economia, transportes.
Combate-se os "privilegiados", neles se incluindo os reformados, os doentes e os idosos, enquanto se sucedem noticias de situações escandalosas de nomeações, reformas, indemnizações milionárias e privilégios sem fim. Escândalos sucessivos (Casa Pia, Apito Dourado, assaltos à mão armada, etc) enchem as primeiras páginas dos jornais. O atraso económico acentua-se. O desemprego aumenta. A insegurança dispara.
O "salve-se quem puder" é agora o pão nosso de cada dia. Desde os alunos da UnI aos empregados das empresas falidas ou "deslocalizadas" e aos funcionários públicos subita e inexplicadamente dispensados.
Mas é neste quadro que um Primeiro Ministro, totalmente descredibilizado perante a opinião pública interna, e totalmente ignorado na opinião pública mundial, se prepara para assumir a Presidência da União Europeia. Apesar disso, de tudo isso, e como se não fôsse pouco, os partidos da oposição refugiam-se num silêncio ensurdecedor. E comprometedor. As autoridades fiscalizadoras do regime - Presidente da República, Assembleia da República, Procurador Geral da República e polícias - assobiam para o lado, preocupando-se antes com outras "prioridades".
Enquanto nos tribunais, essa outra figura do "regime", se entulham os processos contra o próprio Estado e se arrastam, por anos, processos que ilustram a ineficácia das leis. Pedem-se, em cada ano que passa, mais "sacrifícios" à população, em nome do "bem comum", enquanto se agravam, de forma encapotada, impostos, taxas, coimas, multas e afins. Promete-se o céu para amanhã, enquanto se instala o pesadelo no hoje. Estamos num regime sem doutrina, sem ética e sem moral. Até quando ? Como pode a sociedade civil regenerar um País que não se reconhece na actuação dos políticos eleitos ?

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