Com a intervenção do "nosso primeiro" na televisão ter-se-á dado (pelo menos aparentemente) o cair do pano sobre este folhetim que animou o povo por algumas semanas. Animou, mas não convenceu aqueles que minimamente estão a par do caso. Apenas os que não se dão ao trabalho de pensar um pouquito (ou então que ocultam interesses que só eles próprios sabem) é que centralizam a questão em torno de dois pontos perfeitamente marginais - ter ou não a licenciatura (a questão das habilitações) e o ser ou não bom primeiro ministro (a questão das competências técnicas).
O problema eleva-se bem mais alto que estas questões comezinhas e terra a terra. Ele (problema) situa-se ao nível da ética, da moral e da autoridade políticas. E não na legitimidade (como alguns tentaram fazer passar). Esta vem dos votos expressos, e isso foi feito em 2005. As outras mostram-se ou ganham-se com o saber estar, o saber ser e o exercer. É em boa medida não apenas uma questão de competências mas também de carácter.
Fica em forma de conclusão o texto abaixo publicado por José da Grande loja do Queijo Limiano. Parece-me ser um bom epílogo. Mas pode ser que haja mais... nunca se sabe....
No caso Sócrates, depois da entrevista de quarta feira, na RTP1, perante as “dúvidas legítimas” que se levantaram com os factos já conhecidos e divulgados, alguns já depois da entrevista, uma certa classe de pessoas, a maioria dos políticos deste país e um certo tipo de comentadores, declara-se satisfeita e até plenamente satisfeita, com as explicações do actual Primeiro Ministro. Nada mais há a esclarecer, porque o Primeiro Ministro falou, mostrou assim uns papés a modo de prova plena de honorabilidade e isso chega perfeitamente. A crítica que he fazem é apenas a de não os ter mostrado mais cedo...Compreende-se. O caso virou assunto de luta politico-partidária. Logo, as regras são outras. Desaparecem os valores de cidadania, para darem lugar aos valores da política á portuguesa.
O caso Sócrates vai morrer assim, às mãos dos políticos, porque a partir daqui, pouco interessa que Sócrates tenha mentido ( quem não mente em politica, interrogam-se os mesmos?); pouco interessa que as explicações para alguns factos não tenham qualquer ponta por onde se lhe pegue ( quem é que no Parlamento ainda não se viu nas mesmas andanças?) e pouco interessa trazer para a política discutida, a valorização ética de procedimentos de carácter ( todos sabem que isso é secundaríssimo perante os interesses politico-partidários e a competência política absorve completamente essas manchas no carácter, seja de quem for).
O que é que nos resta a nós, cidadãos sem partido ou com ideias diferentes dessa lógica de luta pelo poder político? Lutar também. Pelas ideias que são válidas. A transparência, a alternância democrática, a correcção de procedimentos, a honestidade e verticalidade nos princípios e outros valores éticos e cívicos.Não falei sequer da legalidade. Podemos ter agora a certeza absoluta que isso é uma ideia feita para inglês ver e que a legalidade para os políticos portugueses é apenas uma arma de arremesso, quando convém.
O descrédito completo dos políticos e da política está patenteado nestas atitudes e as consequências, mais tarde ou mais cedo chegarão. Até para eles.
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