30 agosto, 2007

O perigo amarelo ou aonde chega a ganância

A notícia não podia ser mais clara - os produtos chineses são potencialmente perigosos! Acrescentaria mesmo mais (à boa maneira de Dupond & Dupond): a maioria dos artigos provenientes do sudoeste asiático são perigosos.
As tão bajuladas economias asiáticas (os tais "tigres" e dragões" como gostam de ser conhecidas) revelam fragilidades que não se coadunam com os padrões já alcançados pelas chamadas sociedades ociedentais. Para produzirem barato e serem concorrenciais no mercado mundial, já não lhes bastava desrespeitarem normas mínimas como trabalho infantil, segurança social, horários de trabalho absurdos, ausência de férias, salários ridículos entre muitas outras tropelias. E não adianta apregoar que são culturas diferentes, mentalidades diferentes, formas de estar e de ser diferentes. Na prática é uma nova forma de escravatura, já há longos anos abolida à custa de muito sangue, suor e lágrimas nos países ocidentais, onde o respeito pela dignidade da pessoa é ponto assente.
Mas isto só é possível porque muitas empresas e empresários na ganância do lucro fácil e rápido invewstem fortemente no sudoeste asiático, onde nada é respeitado, como se viu. É que no ocidente tal já não seria possível. Há normas e regras a respeitar... e há o direito, a justiça e os tribunais que ainda funcionam. Mas no sudoeste asiático não! É a selva. A selva onde tudo vale, e para onde alguns tristes iluminados parece que nos querem conduzir - de volta à barbárie.
O culto do dinheiro está, nesta sociedade de hiperconsumo (Lipovetsky), ao rubro. A ganância, a estultícia é tal que tudo vale. Como se depreende da notícia abaixo, desde que dê para facturar mais uns "cobres" faz-se tudo! Mesmo pondo em risco a saúde pública e individual! O que é preciso é facturar. Depressa e muito....
França: produtos alimentares chineses são perigosos - estudo
Depois dos brinquedos, pastas de dentes, comida para cães e gatos nos Estados Unidos e produtos com ervas medicinais no Canadá, é agora a vez dos alimentos provenientes da China serem apontados pela França como perigosos, revela o jornal francês Le Monde.
Alguns apresentam riscos graves para a saúde, de acordo com um estudo da revista L`Expansion, referido pelo Le Monde, que destaca os corantes proibidos encontrados em molhos e bolos de arroz, os fungos cancerígenos descobertos em frutos secos, os resíduos de antibióticos detectados em frascos de mel e os vestígios de mercúrio em enguias, além das massas com componentes geneticamente modificados.
Para os investigadores, os utensílios de cozinha provenientes da China também são insalubres, por alegadamente conterem vestígios de níquel, de manganês ou de crómio susceptíveis de contaminar os alimentos.
Citado no estudo, Gilles Martin, proprietário do laboratório Eurofins, a funcionar na China, considera que estes problemas se devem a uma «inacreditável falta de formação e de educação sobre os perigos de contaminação e sobre as boas práticas a adoptar para garantir a segurança dos consumidores».
Outro aspecto indicado no estudo refere-se à falsificação de produtos, dado que «em dois milhões de produtos alimentares contrafeitos registados em 2006, entre 16 e 20% eram oriundos da China», segundo a Organização Mundial das Alfândegas.
O estudo da revista L`Expansion acrescenta que as importações de produtos alimentares chineses foram, em 2006, objecto de um número recorde de alertas em solo europeu, com 263 notificações relativas a produtos retirados do mercado ou bloqueados nas alfândegas, podendo a situação agravar-se este ano, que conta já com 209 ocorrências.

Diário Digital / Lusa
30-08-2007 6:12:00

25 agosto, 2007

Ainda Pacheco...para professores e não só....

Um pouco tarde (mas mais vasle tarde que nunca, lá diz o ditado) mas parece que Pacheco Pereira começou a abrir os olhos para a realidade que se antevê a médio prazo como resultado das medidas de cariz economicista tomadas pelo Ministério de Lurdes Rodrigues. E aqui, Pacheco faz incidir a sua objectiva em apenas um dos muitos aspectos desse grande desiderato socretino: a verdadeira desqualificação do ensino.
O afastamento dos profissionais do ensino mais qualificados (em termos científicos, pelo menos, aqueles que tiveram uma formação adequada e exigente de há bastantes anos, e não aqueles que como frangos de aviário foram formados em escolas ditas superiores de educação, pré-bolonhesas, ou os que virão dessas bolonhesices, cheios de teorias pedagógicas de como ensinar, mas que não sabem o que ensinar pois não têm formação científica capaz para o que quer que seja) é o grande desiderato deste governo que nos desgoverna.
E não apenas porque são mais competentes, mais "refilões", mais conhecedores do sistema, que sabem onde meter o "pauzinho" para encravar o dito cujo. Não, é porque também são caros... E para a educação e conhecimentos que o governo (e os políticos neo-liberais) pretende transmitir e fornecer à sociedade são demasiado caros. Uma coisinha assim "light" basta. Não é preciso muito conhecimento... só umas luzinhas... Por isso, e para isso um professor baratinho chega e sobra (veja-se a criação do super-professor para o 2º ciclo... só para acabadinhos de formar e no início de carreira, logo... "baratinhos"....).
Agoram digam que não é meramente economicismo.... E os "velhotes" que se cuidem... quando entrar a gestão profissional nas escolas, gestão por objectivos, níveis de proficiência, eficiência e rendibilidade, aí é que vai ser o bom e o bonito.

DA RETÓRICA MACRO (DAS "REFORMAS") À REALIDADE MICRO:O CASO DAS ESCOLAS E DOS PROFESSORES (4)
Uma mera observação do mecanismo dessas escolhas mostra que estão feitas para, a prazo, afastar do sistema escolar os professores que dão aulas há mais anos e que são, por norma, os mais qualificados. Como muitos aspectos da reforma da função pública, que foram feitos á pressa e apenas para poupar dinheiro, corre-se o risco de estar a desertificar a função pública do seu know-how mais especializado, do seu capital de experiência. Isto é muito bonito na retórica, mas na prática quem está a apanhar com a ameaça de despedimento a prazo, são os mais velhos, os mais experientes, os que tem maior currículo e saber.
Não se trata de fazer eco da resistência sindical às mudanças que tanto favoreceu a fragilidade dos professores face ao Ministério. Trata-se de casos em que os professores têm pura e e simplesmente razão para se sentirem injustiçados e as reformas podem ter um efeito perverso de agravarem a qualidade do ensino ao empobrecerem a quantidade de "saber" existente dentro das escolas.
(O sublinhado é meu)
Não resisto a reproduzir um comentário deixado pelo leitor Paulo Agostinho no Abrupto a propósito deste tema. Comentário arguto e perspicaz. (Não lhes pedi autorização, mas por uma boa causa acredito que não se importarão):
A última tendência (talvez se justificasse o plural, pois foram tantas em tão pouco tempo) da política educativa portuguesa teve várias consequências, já abordadas no Abrupto. Em primeiro lugar, há uma desvalorização da formação científica dos professores em detrimento da formação "pedagógica". Por esse motivo se abordou a hipótese de colocar mestres em ciências da educação a leccionar várias disciplinas. Mesmo não tendo um sólido conhecimento científico na área das disciplinas que váo leccionar. Há pessoas no ministério que acreditam que o importante é saber "ensinar a aprender", "guiar" os alunos na "descoberta e na construção dos saberes e na aquisição de competências." Como se fosse possível ensinar no vazio.
A desvalorização da formação científica é bem notória nos currículos dos cursos da área de educação (Escolas Superiores e algumas Universidades). Neles, o peso das cadeiras científicas é menor do que nos currículos das universidades tradicionais e o das cadeiras dedicadas às ciências da educação, pedagogias, didácticas e afins é muito maior. O resultado é óbvio: professores que (teoricamente) sabem ensinar, mas que não sabem o que ensinar. E este aspecto tem consequências até a nível disciplinar: quando um professor se mostra inseguro do seu conhecimento ou revela mais do que uma vez falhas que os alunos detectem, começa a ser posto em causa. Perde autoridade, ganha fama de inseguro ou mesmo de incompetente.
Os alunos ainda acreditam que os professores devem saber tudo e não aceitam bem um professor que não saiba muita coisa).
A pior consequência, porém, verifica-se a longo prazo. À medida que os professores com mais conhecimentos científicos vão abandonando o ensino (pela idade ou porque simplesmente optam por outra via profissional onde sejam mais valorizados), ficam os outros. Que ensinam menos, por muita vocação que possam ter. E são alunos pior preparados que começa(ra)m a chegar ao ensino superior. E de lá sairão para ensinar também. O ciclo torna-se vicioso e difícil de travar, com graves custos para o país.

Dá-lhes Pacheco.... e com força!....

Uma das peregrinações no regresso foi passar pelo "Abrupto" de Pacheco Pereira. E esta ficou na retina. O homem tem carradas de razão. Estes novos ricos, ignorantes e umbiguistas, egoístas até ao tutano e transpirando estupidez por todos os poros, revelam aquilo que são - gente rasca que se está nas tintas para os outros, sem pinga nem ponta de solidariedade. Que um grande furacão os leve para a próxima e para bem longe. Mas vamos então ao que diz Pacheco Pereira:

COISAS DA SÁBADO: OS PORTUGUESES E O MEDO
Um tufão, um ciclone, um furacão mete medo, mas convém colocar as coisas em proporção. É um espectáculo incómodo, ouvir as declarações transidas de medo dos turistas portugueses que foram para as Caraíbas e sabem (se não sabem deviam saber) que foram para lá no início da época das tempestades tropicais. É que a República Dominicana, a Jamaica, Cuba e o México não são só mojitos, gins tónicos e praias. Sabem (e se não sabem deveriam saber) que quem paga o preço destas tempestades são os autóctones, os mais pobres e deserdados, que vivem em condições de miséria e que não têm qualquer defesa face a um furacão. Que eu saiba não é comum um furacão levar pelos ares qualquer hotel de turismo, nem as águas entrarem pelo quinto piso do bar. Claro que há incómodos, não há luz e água, tem que se ir para abrigos. Mas esses incómodos vêm no pacote de férias em sítios destes.
Acabem pois com a lamúria que é muitas vezes apenas desprezo pelas vítimas, como acontece em noticiários que abrem e fecham com os pobres turistas refugiados nos quartos de banho do hotel e se esquecem das centenas de vítimas cá fora, nos bairros pobres, nas aldeias de pescadores, nas favelas dependuradas num declive. Que maçada, pode ser que amanhã falte uma criada que desapareceu ou perdeu os filhos numa enxurrada!
Ganda Pacheco!

De volta...

Após umas férias que souberam a pouco passadas em "Bora-Bora" (bora pá qui, bora pá li), eis-nos de novo nas lides.
Há muita coisa para por em dia e que tais...
E há muita diatribe feita por este governo que nos desgoverna aproveitando o tempo de "vacances" do pessoal.
Vamos lá ver se tenho capacidade para tanta coisa...