No Público de hoje que se mostrou particularmente "azedo" para com Sócrates e compagnons de route" saiu este artigo de Carlos Fiolhais sobre questões de educação. Não será preciso estar muito inserido no meio (Fiolhais é do ensino superior e notável divulgador de ciência) para perceber que algo vai muito mal em termos de ensino básico e secundário. Outros há que já o disseram também (Nuno Crato, Santana Castilho, Gabriel Ribeiro, etc...) e só não o vê quem não quer ou é mesmo ceguinho de todo. Bom, quanto ao resto, à escola propriamente dita, foi com a introdução neste país das chamadas Ciências Ocultas (nome pelo qual são vulgarmente conhecidas as ditas “Ciências da Educação”, com algumas honrosas excepções de verdadeiros investigadores) que o desclabro começou. Não sei se ainda há por aqui gente que se lembre da famosa “Leva dos 600 de Boston” que nos idos anos 80 partiram de malas aviadas para Boston, de onde regressaram ao fim de meio ou um ano com um Mestrado ou um Doutoramento em Ciências da Educação. Como é possível a alguém fazer um trabalho sério em tão curto espaço de tempo? Mais, se considerarmos ainda que a maior parte deles eram indivíduos que se encontravam na Universidade no respectivo ramo científico e não conseguiu ter os respectivos doutoramentos prontos a tempo e horas e por tal “mudaram” para as Ciências da Educação, talvez se comece a perceber um pouco mais a quem ficou a educação entregue nos anos seguintes. Há inúmeras outras razões para o descalabro da educação neste país. E o artigo do Fiolhais é deveras esmagador. Creio que qualquer pessoa com um mínimo sentido e conhecimento da realidade facilmente faz estas leituras. Apenas os políticos que vivem num mundo “inventado especialmente para eles”, por “especialistas de pacotilha e de trazer por casa que nunca viram o branco dos olhos aos alunos” podem fazer e apregoar tantos disparates. Não deixará de existir, como cereja em cima do bolo, a questão dos dinheiros a falar bem alto e a impor sua lei.
Já que os sindicatos o não fazem, não haverá ninguém que defenda os professores:
Bate, que é professor!
Quando um tema chega aos humoristas é, geralmente, porque não tem piada nenhuma. É o caso da violência de que têm sido vítimas alguns professores portugueses, que foi glosada por Ricardo Araújo Pereira numa crónica na Visão com o título "Escolas S+M" (Escolas Sade e Masoch). E os "gatos fedorentos" já propuseram sarcasticamente que se contratassem ciganos para professores.
O mesmo tema foi tratado mais a sério pelo escritor Manuel António Pina na sua coluna do Jornal de Noticias, cujo título também chamava a atenção: "Já espancou um professor hoje?" 0 meu título de cima, escolhido com a mesma intenção, significa que estou tão indignado como ele. Tal como o psiquiatra Daniel Sampaio, autor na última Pública da crónica "Afinal quem manda lá em casa", está indignado com a violência juvenil dentro de casa.
Afinal quem manda na escola? Os professores portugueses cada vez menos. Eles têm sido bastante maltratados. Não é apenas a violência física, por parte de alunos ou dos seus pais, mas também a violência, mais subtil, que consiste na progressiva retirada do poder que detinham. As duas poderão até estar relacionadas.
Em primeiro lugar, o poder tem sido retirado aos professores pelas pseudopedagogias não directivas que têm presidido à educação nacional. Na linguagem rebuscada que entre nós ficou conhecida por "eduquês", essas correntes falam de "ensino centrado no aluno". Essa ideia não é nossa e está longe de ser inovadora, pois a "escola nova" é bastante velha: já o pedagogo suíço Édouard Claparède escrevia nos anos 30 do século passado que "a concepção funcional da educação e do ensino consiste em tomara criança como o centro dos programas e dos métodos escolares". E não tem dado bons resultados, porque é uma ideia absurda. Faz parte da essência da escola – a instituição que a sociedade inventou há séculos para preparar as crianças e os jovens para a vida – que os professores ensinem e que os alunos aprendam. O professor sempre foi o centro da escola no sentido em que ele é que ensinava – um verbo agora proibido –, ao passo que os alunos aprendiam – um verbo agora pouco praticado. 0 aparecimento da "escola para todos" em finais do século XIX (que em Portugal demorou muito a chegar e que, infelizmente, ainda demora, com a tragédia do abandono escolar) colocou o professor ainda mais no centro da escola. A expressão "ensino centrado no aluno" ficou completamente excêntrica, até porque a sala de aula não pode ter numerosos centros.
Mas há uma outra forma de retirar poder aos professores, que, ao contrário da pedagogia que fala "eduques", é urna invenção nacional recente. Trata-se da ideia perigosa de que os pais dos alunos devem avaliar os professores. Quando ela foi desmentida, já se tinha espalhado... Aqui o conceito é mesmo novo, pois não tem antecedentes na história da educação, nem há nada parecido noutros sistemas de ensino. O ensino, em vez de ser centrado no aluno, passaria a ser centrado nos pais do aluno. Claro que a ideia não iria dar bons resultados, porque também é absurda. A escola é a instituição na qual a sociedade e as famílias decidiram delegar parte da sua autoridade na educação das crianças e dos jovens. É bom que a escolham. Mas têm de confiar na escola, o que significa em primeira linha confiar nos professores. Os pais não têm a capacidade nem a independência para julgar os professores. A ameaça da avaliação dos professores pelos pais não passa de uma forma de populismo que, apesar de instrumentalmente útil na luta do poder político contra os sindicatos, pode ter graves consequências a prazo. Com as agressões de país a professores, essas consequências podem estar à vista...
Curiosamente, os sindicatos dos professores têm estado irmanados com o sistema educativo vigente há décadas, ao falarem "eduques" e ao defenderem a centralidade do aluno. Já que os sindicatos o não fazem, não haverá ninguém que defenda os professores?
Bate, que é professor!
Quando um tema chega aos humoristas é, geralmente, porque não tem piada nenhuma. É o caso da violência de que têm sido vítimas alguns professores portugueses, que foi glosada por Ricardo Araújo Pereira numa crónica na Visão com o título "Escolas S+M" (Escolas Sade e Masoch). E os "gatos fedorentos" já propuseram sarcasticamente que se contratassem ciganos para professores.
O mesmo tema foi tratado mais a sério pelo escritor Manuel António Pina na sua coluna do Jornal de Noticias, cujo título também chamava a atenção: "Já espancou um professor hoje?" 0 meu título de cima, escolhido com a mesma intenção, significa que estou tão indignado como ele. Tal como o psiquiatra Daniel Sampaio, autor na última Pública da crónica "Afinal quem manda lá em casa", está indignado com a violência juvenil dentro de casa.
Afinal quem manda na escola? Os professores portugueses cada vez menos. Eles têm sido bastante maltratados. Não é apenas a violência física, por parte de alunos ou dos seus pais, mas também a violência, mais subtil, que consiste na progressiva retirada do poder que detinham. As duas poderão até estar relacionadas.
Em primeiro lugar, o poder tem sido retirado aos professores pelas pseudopedagogias não directivas que têm presidido à educação nacional. Na linguagem rebuscada que entre nós ficou conhecida por "eduquês", essas correntes falam de "ensino centrado no aluno". Essa ideia não é nossa e está longe de ser inovadora, pois a "escola nova" é bastante velha: já o pedagogo suíço Édouard Claparède escrevia nos anos 30 do século passado que "a concepção funcional da educação e do ensino consiste em tomara criança como o centro dos programas e dos métodos escolares". E não tem dado bons resultados, porque é uma ideia absurda. Faz parte da essência da escola – a instituição que a sociedade inventou há séculos para preparar as crianças e os jovens para a vida – que os professores ensinem e que os alunos aprendam. O professor sempre foi o centro da escola no sentido em que ele é que ensinava – um verbo agora proibido –, ao passo que os alunos aprendiam – um verbo agora pouco praticado. 0 aparecimento da "escola para todos" em finais do século XIX (que em Portugal demorou muito a chegar e que, infelizmente, ainda demora, com a tragédia do abandono escolar) colocou o professor ainda mais no centro da escola. A expressão "ensino centrado no aluno" ficou completamente excêntrica, até porque a sala de aula não pode ter numerosos centros.
Mas há uma outra forma de retirar poder aos professores, que, ao contrário da pedagogia que fala "eduques", é urna invenção nacional recente. Trata-se da ideia perigosa de que os pais dos alunos devem avaliar os professores. Quando ela foi desmentida, já se tinha espalhado... Aqui o conceito é mesmo novo, pois não tem antecedentes na história da educação, nem há nada parecido noutros sistemas de ensino. O ensino, em vez de ser centrado no aluno, passaria a ser centrado nos pais do aluno. Claro que a ideia não iria dar bons resultados, porque também é absurda. A escola é a instituição na qual a sociedade e as famílias decidiram delegar parte da sua autoridade na educação das crianças e dos jovens. É bom que a escolham. Mas têm de confiar na escola, o que significa em primeira linha confiar nos professores. Os pais não têm a capacidade nem a independência para julgar os professores. A ameaça da avaliação dos professores pelos pais não passa de uma forma de populismo que, apesar de instrumentalmente útil na luta do poder político contra os sindicatos, pode ter graves consequências a prazo. Com as agressões de país a professores, essas consequências podem estar à vista...
Curiosamente, os sindicatos dos professores têm estado irmanados com o sistema educativo vigente há décadas, ao falarem "eduques" e ao defenderem a centralidade do aluno. Já que os sindicatos o não fazem, não haverá ninguém que defenda os professores?
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