23 março, 2007

O estranho caso do "Dossier Sócrates"

Não vou neste post esgravatar ainda mais sobre a questão de ter ou não ter as ditas cujas habilitações ou mesmo sobre a sua qualidade que há quem considere, de forma mais ou menos subreptícias, no mínimo duvidosas. Prefiro antes abordar outra questão um pouco mais lateral, e nem por isso de menor importância: o eco nos media de tal notícia.
Ora bem, e deixando também de lado a questão de quem primeiro abordou tal temática, quando um jornal de referência, como foi o caso, trouxe à colação para a praça pública uma matéria deste calibre, seria de supor, no mínimo, que outros meios de comunicação (rádios, tv's e outros jornais) se debruçassem também eles um pouco sobre o assunto. Não que iniciassem eles próprios uma nova investigação mas que pelo menos glosassem o tema sob a forma de comentário, entrevista ou outra coisa qualquer.
E é isto que espanta! Nenhum, mas mesmo nenhum (que eu tivesse visto) aborda o assunto. Há a excepção de uma ou outra estação de rádio (creio que a RFM) se referiu ao caso ainda ontem dia 22, mas de resto tudo é um verdadeiro deserto. A notícia, a investigação do Público, pura e simplesmente não existiu...
Não parecendo é coisa grave. Grave porque José Sócrates não qualquer um: é tão só o primeiro-ministro de um país que vê algo a seu respeito exposto na praça pública; grave porque em qualquer país civilizado, com princípios e ética política o assunto seria debatido até à exaustão por partidos políticos, orgãos de comunicação, em cafés, tertúlias, na rua...; e discutir-se-ia certamente não o se o dito senhor seria engenheiro ou outra coisa qualquer, mas se teria mentido ou não. Neste país nada se discute, nada se fala (excepção nos malditos blogues como este). Mais, é grave por dar a entender a existência de uma qualquer forma de autocensura nos meios de comunicação social, uma prática política de não afrontamento do poder. Até que ponto? Imposta pelas direcções desses mesmos orgãos? Dos próprios jornalistas? A título de curiosidade veja-se que o tema candente que o editor do Diário de Notícias (http://dn.sapo.pt/2007/03/23/editorial/dois_tribunais.html) chama para o editorial é nada mais nada menos que o emprego, por parte de uma juíza alemã, do Corão para recusar o divórcio a uma mulher de origem marroquina. Das duas uma: ou o homem não se enxerga, ou então é marroquino!
Um outro aspecto, e este certamente bem mais grave, seria o surgimento de uma forma de censura, não oficial, vinda de cima, das esferas do poder. Aqui então, a coisa perfigurava-se bem mais grave. Tanto mais que há uns tempos atrás Jorge Coelho então destacado dirigente e militante do Partido Socialista afirmou: "Quem se mete com o PS leva!"

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