O dayafter
Após a publicação pelo Público do trabalho do Felner seria no mínimo expectável que a restante imprensa saltasse cá para fora com qualquer coisa que se visse ou outro tipo de comentário. Mas não a reacção foi bastante tímida. Os motivos podem ser fonte de especulação; por isso vamos a casos mais concretos. O Correio da Manhã referiu o assunto em páginas interiores e a propósito do caso da Universidade Independente. Não acrescentou rigorosamente nada, limitando-se a resumir. Daqui estamos conversados. Já o Diário de Notícias optou, pela pena de uma tal Jacinta Romão, tentar "matar" o mensageiro. O título é, aliás, sugestivo: "Um bloguista que quer fazer política". O artiguito em si é pró fracote; quase nem vale a pena transcrevê-lo. No entanto no final do mesmo revela o seu verdadeiro objectivo:
Num campo oposto, António Delgado, professor na Universidade da Beira Interior e numa outra, espanhola, sempre discordou dos pontos de vista de Caldeira. Sublinha que não conhece António Caldeira pessoalmente, mas esteve sempre do outro lado da barricada, desde os movimentos de há dez anos, "em todas as iniciativas" que Caldeira defendeu para Alcobaça. "Sempre me deu a entender que tudo era uma questão de promoção pessoal, não em benefício de Alcobaça.
Alguma coisa por detrás
"Tinha alguma outra coisa que estava por detrás", afirma este "inimigo" do activo bloguista. Mas, diz o professor da Universidade da Beira Interior, "a minha animosidade é com as ideias". António Delgado acha que "aquilo que ele sempre fez não tem nada a ver com a realidade daquela terra".
Quanto à restante imprensa a coisa ficou assim:...pasmada...pasme-se, ou talvez não.
Bem há sempre a alternativa dos blogues, nomeadamente os de referência. O primeiro, porque foi o primeiro a levantar a lebre de toda esta história é o Do Portugal Profundo do António Balbino Caldeira. Igual a si próprio continuou calmamente a sua constante actualização tentanto conjugar factos novos com os já conhecidos. O melhor é mesmo visitá-lo: http://doportugalprofundo.blogspot.com/
Outro referencial por vários motivos é o Causa Nostra de Vital Moreira et al. (http://causa-nossa.blogspot.com/). Nele uma referência ao assunto que se transcreve:
Purismos
Para pôr fim a acusações mesquinhas, o Primeiro-Ministro mudou a forma da sua apresentação pessoal, de "engenheiro civil" para "licenciado em engenharia civil". A nova fórmula é mais correcta, referindo a sua qualificação académica e não uma qualificação que em rigor refere uma profissão. No entanto, nas formas de tratamento social corrente entre nós é frequente usar a segunda como equivalente da primeira, pelo menos no caso da engenharia e da arquitectura, tratando por "engenheiro" e por "arquitecto" os licenciados nas correspondentes áreas, mesmo que não exerçam a profissão. De facto, quantos licenciados em engenharia ou arquitectura não exercem a profissão, ou, exercendo-a, não estão inscritos nas respectivas Ordens, não possuindo portanto o competente título profissional? Ora, embora em rigor só estes possam invocar a qualificação de engenheiro ou arquitecto, será que no tratamento social corrente reservamos só para eles a fórmula "Engº Fulano" ou "Arqº Beltrano"? Quantos "engenheiros" e "arquitectos" não conhecemos na vida política, na actividade jornalística, na vida económica e na gestão empresarial que não exercem (e por vezes nunca exerceram) a profissão, muito menos possuem o título profissional? Será preciso mencionar nomes?E quantos dos puristas neste episódio não usam no tratamento social corrente a fórmula "Dr." para qualquer licenciado, quando não o invocam para si mesmos? Haja senso!
Para pôr fim a acusações mesquinhas, o Primeiro-Ministro mudou a forma da sua apresentação pessoal, de "engenheiro civil" para "licenciado em engenharia civil". A nova fórmula é mais correcta, referindo a sua qualificação académica e não uma qualificação que em rigor refere uma profissão. No entanto, nas formas de tratamento social corrente entre nós é frequente usar a segunda como equivalente da primeira, pelo menos no caso da engenharia e da arquitectura, tratando por "engenheiro" e por "arquitecto" os licenciados nas correspondentes áreas, mesmo que não exerçam a profissão. De facto, quantos licenciados em engenharia ou arquitectura não exercem a profissão, ou, exercendo-a, não estão inscritos nas respectivas Ordens, não possuindo portanto o competente título profissional? Ora, embora em rigor só estes possam invocar a qualificação de engenheiro ou arquitecto, será que no tratamento social corrente reservamos só para eles a fórmula "Engº Fulano" ou "Arqº Beltrano"? Quantos "engenheiros" e "arquitectos" não conhecemos na vida política, na actividade jornalística, na vida económica e na gestão empresarial que não exercem (e por vezes nunca exerceram) a profissão, muito menos possuem o título profissional? Será preciso mencionar nomes?E quantos dos puristas neste episódio não usam no tratamento social corrente a fórmula "Dr." para qualquer licenciado, quando não o invocam para si mesmos? Haja senso!
Fica-se notoriamente com um sentimento simultaneamente de minimização do caso, sem lhe tocar no verdadeiro âmago da questão. Enfim... coisas. Vá-se-lá perceber vindo isto de um reputado jurista.
Outro renomado blogue - Abrupto do não menos mediático José Pacheco Pereira também foca a questão. E na prática não procura passar uma esponja sobre o assunto. (http://abrupto.blogspot.com/). Considera mesmo haver matéria para notícia, logo matéria para bom e sério jornalismo:
"Anda para aí grande celeuma com a notícia do Público sobre o grau académico do Primeiro-Ministro José Sócrates. Esta questão está longe de ser nova: aqui no Abrupto, uma vez que escrevi "engenheiro Sócrates". Uma série de engenheiros escreveram a protestar. Nos blogues, e em blogues assinados, havia já muita informação factual há muito tempo sobre esta questão e só estranho que ela tenha levado tanto tempo a ser tratada na imprensa.Por isto se percebe que acho completamente legítimo que o Público o tenha feito e só discordo que sinta necessidade de o justificar. É exactamente isto que os jornais devem fazer para exercer a sua função: uma investigação própria, com uma agenda própria. Não há qualquer intromissão em questões privadas e nenhum preconceito contra o facto de o Primeiro-Ministro ter ou não ter um "dr." ou "eng." antes do nome. Isto só se estranha por ser raro.O que acontece é que em qualquer democracia, a contradição entre a biografia oficial do Primeiro-Ministro e os factos, é matéria noticiosa. Ora, se tudo estivesse bem, essa biografia não teria sido mudada há poucos dias, exactamente quando a controvérsia ameaçava passar dos blogues para os jornais.[Nota posterior: esta não é matéria "de oposição" a não ser que existisse qualquer implicação criminal. Aí sim percebia-se que um partido suscitasse a questão. Fora disso, é uma matéria de opinião pública, que apenas implica uma sanção dessa mesma opinião, tanto mais livre quanto resultar da independência de todos, da comunicação social em particular. Convinha ser muito prudente em proclamações morais que normalmente acabam por cair em cima de quem as faz.]"
Quanto ao "dossier Sócrates" é preferível ficar por aqui. Há outros assuntos a requererem atenção que podem correr o risco de passar despercebidos. O Do Portugal Profundo irá, certamente, continuar a acompanhar esta matéria e a divulgar mais dados novos caso apareçam.
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