O Fernando Pessoa/Álvaro de Campos/Fernando Pessoa lá sabiam de quem estavam a falar.
Opiário (adaptado):
É antes do ópio que a minh'alma é doente. (Acho que não!)
(...)
Esta vida de bordo há-de matar-me. (Então vai-te embora...)
São dias só de febre na cabeça (o costume...)
E, por mais que procure até que adoeça,
já não encontro a mola pra adaptar-me. (pudera.... tanta trapalhada)
Em paradoxo e incompetência astral (de acordo quanto à incompetência)
Eu vivo a vincos de ouro a minha vida, (ai menino de ouro!...)
Onda onde o pundonor é uma descida (sempre a descer...)
(...)
É por um mecanismo de desastres, (tá claro, não?)
Uma engrenagem com volantes falsos, (a tua especialidade)
(...)
Duma vida-interior de renda e laca. (és de plástico, já sabíamos...)
Tenho a impressão de ter em casa a faca
Com que foi degolado o Precursor.
Ando expiando um crime numa mala, (essa é nova!)
Que um avô meu cometeu por requinte. (a culpa é sempre dos outros)
(...)
Perco-me em transparências latejantes
E numa noite cheia de brilhantes, (é só glamour...)
(...)
Eu, que fui sempre um mau estudante, agora (finalmente confessas...)
Não faço mais que ver o navio ir
(...)
E fui criança como toda a gente. (julgas que és mais que os outros?)
Nasci numa província portuguesa (isso é que te dói!)
E tenho conhecido gente inglesa (não me digas...)
Que diz que eu sei inglês perfeitamente. (mas técnico, claro!)
Gostava de ter poemas e novelas
Publicados por Plon e no Mercure, (não se pode ter tudo, não é?)
(...)
Falo com alemães, suecos e ingleses (em inglês técnico, obviamente)
E a minha mágoa de viver persiste.
(...)
Moro no rés-do-chão do pensamento (não dá para mais, pois não?!)
E ver passar a Vida faz-me tédio. Fumo. Canso. (nos aviões lembro-me eu!)
(...)
Sou desgraçado por meu morgadio.
Os ciganos roubaram minha Sorte. (outra vez a culpar os outros! Já cansa!)
(...)
Eu fingi que estudei engenharia. (na Universidade Independente?)
Vivi na Escócia. Visitei a Irlanda. (confesso que não sabia...)
Meu coração é uma avòzinha que anda
Pedindo esmola às portas da Alegria. (são a avozinha, os reformados, os desempregados, etc...)
(...)
Volta à direita, nem eu sei para onde. (Já é hábito...)
Passo os dias no smokink-room com o conde
- Um escroque francês, conde de fim de enterro. (será o Castelo Branco?)
(...)
Não tenho personalidade alguma. (Só agora é que descobriste?)
É mais notado que eu esse criado
De bordo que tem um belo modo alçado
De laird escocês há dias em jejum. (já os vi começar por menos...)
(...)
Sou doente e fraco. (nota-se...)
O comissário de bordo é velhaco. (mas não é o único)
Viu-me co'a sueca... e o resto ele adivinha. (ai se a Câncio sabe...)
Um dia faço escândalo cá a bordo,
Só para dar que falar de mim aos mais. (Num é preciso...)
Não posso com a vida, e acho fatais
As iras com que às vezes me debordo. (Se te dão muitas vezes marchas mais cedo...)
Levo o dia a fumar, a beber coisas,
Drogas americanas que entontecem, (Quem diria...?!)
(...)
Pertenço a um gênero de portugueses
Que depois de estar a Índia descoberta
Ficaram sem trabalho. A morte é certa. (Mas não vai ser o teu caso, pois não?)
Tenho pensado nisto muitas vezes. (Nada como prevenir...)
(...)
Nem leio o livro à minha cabeceira. (nem esse nem outros...!)
(...)
E isto afinal é inveja.
Porque estes nervos são a minha morte. (Por isso te controlas tanto...)
(...)
E pregassem comigo nalgum lodo. (Espera por 27 e vais ver...)
Febre! Se isto que tenho não é febre,
Não sei como é que se tem febre e sente. (há muito tempo que estás assim...)
(...)
Vida social por cima! Isso!
(...)
Porque isto acaba mal e há-de haver (podes ter a certeza...)
(Olá!) sangue e um revólver lá pró fim (promessas, mais uma...)
Deste desassossego que há em mim
E não há forma de se resolver. (decide-te...)
(...)
Não terão como eu o horror à vida?
Se ao menos eu por fora fosse tão
Interessante como sou por dentro! (gaba-te cesto roto...)
Vou no Maelstrom, cada vez mais pró centro.
Não fazer nada é a minha perdição. (e se fizeres também)
Um inútil. Mas é tão justo sê-lo! (Ora aí está! Chegaste ao ponto!)
Pudesse a gente desprezar os outros (Que é que tu tens feito?)
E, ainda que co'os cotovelos rotos,
(...)
A minha vida mude-a Deus ou finde-a ... (os votozinhos, senhor, os votozinhos....)
Deixe-me estar aqui, nesta cadeira, (para o outro foi mau negócio...)
Até virem meter-me no caixão. (foi o que lhe aconteceu...)
(...)
Deus que acabe com isto! Abra as eclusas — (Já ontem era tarde...)
E basta de comédias na minh'alma! (A quem o dizes....)
(No Canal de Suez, a bordo)
Álvaro de Campos, in "Poemas" Heterónimo de Fernando Pessoa
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