29 março, 2008

Ainda há gente que pensa por si...

Fernando Sobral publica no Jornal de Negócios um texto (do qual aqui se transcreve parte) que bem pode pedir meças a muitos comentadores de meia tigela da praça. Não creio que FS esteja por dentro do sistema educativo (refiro-me ao ensino básico e secundário) e penso mesmo que estará mais ligado ao mundo dos negócios.

Mas esse facto não o impediu de observar com lucidez quanto baste a realidade existente nesse mesmo sistema educativo. Creio que qualquer pessoa medianamente inteligente, sem parti pris, minimamente atenta à realidade não só escolar mas de toda a sociedade e em toda a parte dela, com a honestidade intelectual que se pode e deve pedir numa análise de um problema grave como o do ensino e da realidade dasa escoals em Portugal, chegava às conclusões que FS chegou. E se estivesse mesmo por dentro da questão pintaria o panorama com cores ainda mais negras.

Só gente com dívidas na consciência pode dizer os disparates que por aí pululam, arrogando-se de grande sapiência, valendo-se do seu estatuto de spin doctors e da facilidade de acesso aos meios de comunicação social, quantos deles enfeudados a práticas pouco claras.

Ao Fernando Sobral (que se bem me recordo já teve há uns anitos posições bem diversas das actuais) resta-me dar-lhe os meus parabéns! Ter-se-á conseguido libertar do discurso onírico vigente e regressou à terra onde não corre leite e mel.



A política da encenação
A discussão sobre a educação, especialmente depois de se ter transplantado para o YouTube, tornou-se uma espécie de relação esquizofrénica entre um pelotão de fuzilamento e o fuzilado. A questão aqui é que, a qualquer momento, o fuzilado pode ter uma face diferente: os alunos, os professores, os pais ou o Ministério da Educação. Há uma sensação: a escola tornou-se um território minado, onde todos se arriscam a desaparecer em combate. Uns porque deixaram de ter autoridade, outros porque vivem neste imenso mundo de consumo obrigatório em que tudo é fácil: até passar de ano, sem se saber ler nem escrever, para garantir as estatísticas positivas que se mostram à União Europeia. Já quase tudo se disse sobre esta educação nacional, que o “sistema”, entrincheirado há dezenas de anos no Ministério da Educação, e com a conivência de todos, foi criando para belo prazer das “Novas Oportunidades”. No fundo, com tantas “aulas de substituição”, avaliações, “áreas de projecto”, aulas de “formação cívica” e outras palermices, foi-se criando uma imensa massa de idiotas úteis. Há muitas excepções, mas não passam disso. Olha-se para a escola e que é que se ouve? Queixas de todos os lados. Mas sobretudo nota-se uma coisa crucial: estamos a pseudo-formar gerações de jovens que acham que tudo é fácil, e que a vida do futuro vai ser uma mistura entre um Sms, uma gravação feita por um telemóvel, e uns insultos aos professores. O que parece que ninguém quer discutir é o mais óbvio: como é que estas gerações vão chegar às empresas (à vida real) e lidar com a hierarquia, as regras, a sensação de que não fazem o que querem? Não é uma questão de valores ou falta deles. É óbvio que as gerações mais antigas partilhavam a sua história comum, e que estas mais novas partilham valores de tribo. O “sistema” fez do facilitismo a sua Cartilha Maternal. E ao denegrir sistematicamente os professores conseguiu fazer com o que restava da autoridade destes perdesse o simbolismo. E os jovens de hoje movimentam-se por símbolos. As sucessivas políticas do Ministério da Educação têm tido apenas um objectivo: tornar as escolas locais ingovernáveis. Já o conseguiram.

2 comentários:

Anónimo disse...

http://topodacarreira.blogspot.com/

Vítor Ramalho disse...

O artigo está excelente.