17 abril, 2008

Relexões

Um texto, recente, que merece atenção. Não é frequente ver um economista produzir destes pensamentos. Talvez seja por os vermos mais ligados aos números. Mas há quem veja para além deles e não se deixe iludir.

Pela liberdade
Os desafios são universais. A resposta só pode ser universal. Não há, por isso, espaço para divisões entre os que querem a liberdade.
António Neto da Silva

Vamos continuar a viver divisões ou iremos trabalhar, juntos, para defender os direitos do homem e o primado do Direito? Iremos nós atraiçoar as gerações futuras permitindo que, devido às fragilidades que nos dividem, a civilização que herdamos se desintegre e o planeta se torne inabitável?
Estamos em uma época em que há que unir e não separar; uma época de solidariedade, não de hostilidade; de cooperação, não de competição. De facto, avizinha-se um período difícil, em que teremos que voltar a lutar pelos direitos do homem, pela democracia, pela razão e pela liberdade. A humanidade, a nossa sociedade, estão mergulhadas num silêncio ensurdecedor, provocado pela manipulação dos nossos subconscientes, feita por forças que utilizam técnicas muito sofisticadas de propaganda, baseadas em estudos psicológicos e que utilizam os meios electrónicos de comunicação de massas para nos condicionarem.De facto, os cidadãos estão a perder a capacidade de utilizarem a razão para fazerem as suas escolhas. O debate das ideias está anestesiado. É por isso que somos colectivamente essenciais para a sobrevivência dos valores estruturais que formataram o século XX e que, com dificuldade, se mantêm no início deste séc. XXI. Estamos em uma encruzilhada crítica. Os desafios são universais. A resposta só pode ser universal. Não há, por isso, espaço para divisões entre os que querem a liberdade.O período de ouro que tivemos a felicidade de viver e que devemos a muitos homens e mulheres notáveis que nos precederam, está em grave risco. Identifico, como principais desafios, os seguintes:
1. O individualismo excessivo que caracteriza os dias de hoje;
2. Os fundamentalismos religiosos e os seus derivados, os terrorismos religiosos;3. O abuso de poder dos governos nas democracias, com a justificação da necessidade de defender os cidadãos face ao terrorismo, mas que pode vir a revelar-se tão mau para as sociedades livres como aquele;
4. O desaparecimento das ideologias (e a consequente convergência para estruturas equivalentes a partidos únicos);
5. A construção, em sentido unívoco, da opinião e o adormecimento consequente das consciências;6. A globalização competitiva com a ideologia dominante da eficiência e da competitividade;7. O esgotamento dos recursos naturais que sustentam a vida humana no planeta.Não esgotei os factores que tendem a destruir a liberdade. Mas são estes os principais.Vivemos numa época de perplexidade. Queixamo-nos sistematicamente da desagregação das famílias, da insegurança nas ruas e nas casas, do desrespeito pelas instituições, pelas pessoas, da falta à verdade de governos e de governados, dos escândalos envolvendo os mais altos dignitários das nações, uns baseados em verdade, outros inventados e manipulados pelos media, que destroem homens e as suas famílias, por mais honrados que sejam, para abrir caminho a outros ávidos de poder e sem escrúpulos. A opinião pública ri-se quando se fala de valores fundamentais como honestidade, caridade, dimensão de estado, da simples noção de servir os países, o mundo ou os semelhantes. Ri-se por não considerar possível haver verdade nessas intenções ou desinteresse na sua prática.
A noção de construção de um futuro comum parece ter-se desintegrado.A razão fundamental para este estado de coisas advém do facto de a última década do séc. XX e a entrada no séc. XXI se caracterizarem pelo triunfo do individualismo. É este individualismo que está a levar a sociedade para um caminho de perplexidade.
Hoje, o que quer que desejemos, o mercado fornece. A nossa vida é marcada por algo que nos está subjacente e que a publicidade permanentemente nos inculca: “tenha tudo sempre de acordo com o seu desejo”. Em consequência, a sociedade ocidental está hoje fragmentada em milhões de indivíduos.
O sentido de grupo ou de comunidade perdeu-se. Não pensamos em “nós” mas em “mim”. O “eu” é soberano. O interesse do grupo, do país, do Estado ou do planeta estão literalmente marginalizados na nossa postura. É preciso mudar e, por isso, tratarei do individualismo destrutivo, de forma mais aprofundada, no próximo artigo.
António Neto da Silva, Economista

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