01 julho, 2007

Ingenuidade ou cinismo?

Em entrevista publicada hoje no JN, Maria de Lurdes Rodrigues, Ministra da Educação (para os mais desatentos) deste governo (que nos desgoverna) tece várias considerações que não vêm aqui ao caso.
Mas uma particularmente interessante ressalta e que se transcreve, a propósito do "caso Charrua" e da Directora Regional de Educação do Norte (o negrito é meu):

Considero que a minha responsabilidade é ter particular atenção para que todos os procedimentos, como o direito de defesa, estejam salvaguardados. Depois, a senhora directora regional do Norte é que está a ser acusada e perseguida e não tenho sinais que correspondam às acusações de perseguição política, delito de opinião ou de autoritarismo excessivo. Quando peço contas aos serviços não me dão essas indicações, e na opinião publicada há uma acusação feroz e aproveitamento político-partidário da questão.
Ora bem! Quando a senhora pede contas aos serviços, que esperava que eles dissessem? Os serviços não dirão nem mais nem menos que aquilo que a senhora quer ouvir. Todos os serviços da hierarquia reportam ao superior hierárquico imediato o melhor dos mundos. Nenhum quer ficar mal visto perante o seu superior. Nenhum tem problemas. Apenas os funcionários na base da pirâmide hierárquica sabem o que sofrem para cumprir determinações (muitas vezes estapafúrdias) emanadas do topo da pirâmide, que na maior parte das vezes são decisões tomadas a partir de falsos pressuspostos, informação incorrecta e implementações deturpadas. O feedback que o governante acaba por obter é sempre desfocado e filtrado pelos vários elos da cadeia hierárquica.
Neste caso, se a senhora ministra apenas se fia naquilo que os serviços lhe comunicam elabora em duplo erro. Por um lado demonstra ignorância sobre a forma como o sistema funciona; por outro um autismo confrangedor em relação àqueles que de fora desse mesmo sistema procuram tornar clara realidade existente.
O desfazamento entre governantes e governados é de facto uma realidade. Por isso é que as sondagens são importantes. Por isso os governos desta última geração levam tão a sério a questão das sondagens. Acabam por ficar a governar para elas porque o povo que os elege esse, verdadeiramente, não conhecem.

Sem comentários: