22 março, 2007

Dossier Sócrates

Com o trabalho saído hoje (22-03-2007) nas páginas do Público abriu-se uma frente nova de combate a este governo que nos desgoverna há dois longos anos. É bom que este espaço de tempo esteja presente na memória de TODOS pois ninguém (salvo as excepções do costume) ficou de fora da agressividade com que este governo brindou o país.
Mas, voltando ao assunto principal, o Dossier Sócrates não é verdadeiramente novo. Há mais de 2 anos que António Balbino Cardoso, no seu blogue Do Portugal Profundo vem desenovelando esta grande meada e confusão. A ele todos os méritos são devidos. O jornal Público limitou-se a tentar confirmar os factos. E não só confirma muitos deles, como lança ainda mais alguma confusão para o meio.
O jornal Público teve o mérito de lançar para a praça pública (num espectro muito mais amplo) o que no blogue de A. Balbino Cardoso já corria há muito tempo e não como diz há cerca de 1 mês (não foi completamente o primeiro porque o jornal O Crime também já tinha pegado no tema mas por outra perspectiva); no entanto é claramente uma contraofensiva do Eng. Belmiro de Azevedo e do grupo Sonae contra Sócrates. Uma possível vendetta pelo falhanço da OPA da Sonae sobre a PT, e que rapidamente Belmiro de Azevedo lançou as culpas a José Sócrates e Caixa Geral de Depósitos (esta por arrastamento).
Mas o que está aqui em causa, para além desta guerrilha particular entre essas duas personagens do Portugal contemporâneo, é a atitude do próprio José Sócrates. Repare-se que digo a atitude nada mais para além disso. Ela ficou hoje plasmada no Público com a nota enviada a este jornal por ele próprio, onde afirma "Não posso, porém, deixar de me indignar com mais uma campanha de insinuações, suspeitas e boatos que me pretende atingir na minha honra e consideração e que, à semelhança de outras de triste memória, assume uma dimensão difamatória e caluniosa. E têm sempre a mesma natureza - são veiculadas pelos mesmos meios, sob o anonimato dos blogues ou por jornais de referência no sensacionalismo e no crime. E usam, também, o mesmo método, limitando-se a levantar suspeitas insidiosas com base em dados falsos" (sublinhado meu).
Mais se poderia avançar nesta citação, mas a primeira falsidade está quando refere que esta denúncia de situação menos clara das habilitações do nosso primeiro partiu de um blogue anónimo. O blogue em causa é o Do Portugal Profundo em nada, nem nunca anónimo, verdade seja dita. Este blogue sempre esteve devidamente identificado. Portanto a primeira farpa foi muito mal direccionada. Em segundo lugar as suspeitas, ao contrário do que diz Sócrates, são perfeitamente justificadas perante dados que não são falsos, mas sim incompletos, e estranhas omissões, como o próprio Público pode confirmar ao consultar o processo de Sócrates na Universidade Independente. Portanto as alegações de Sócrates caem por terra ao primeiro round.
Outros aspectos. Alguém conhecedor do processo de equivalências da UnI deixou as seguintes indicações a esse propósito no Do Portugal Profundo. Citam-se estes passos por me parecerem ser aqueles que se seguem noutras Universidades:
Num pedido de equivalência (UnI) é obrigatório apresentar certificado de aproveitamento assim como o plano curricular das cadeiras em causa, tendo este que ser emitido e comprovado pela anterior universidade – de referir que, se pode pedir/atribuir equivalência a cadeiras que tenham nomenclaturas diferentes nas duas universidades, mas é necessário que o plano curricular de ambas seja similar;
Todos os pedidos de equivalência (ou outros que careçam de análise) na UnI, têm que primeiro dar entrada na secretaria, preenchendo para o efeito um impresso próprio e anexando o que for imprescindível. Ao preencher o impresso, o requerente tem que assinar e datar o documento, e pode pedir fotocópia autenticada do mesmo se o entender;
Há pedidos que implicam o pagamento de uma taxa (equivalências, por ex), que é feito na secretaria da UnI, sendo sempre emitido um recibo;
Após data prevista, é dada resposta ao pedido de equivalência, sendo esta sempre datada e assinada por quem tem proficiência para tal na UnI, referindo-se na mesma a nota atribuída às cadeiras, com fundamentação;
Todas as pautas afixadas na UnI são assinadas pelo docente e carimbadas pela secretaria. Nas pautas também consta a data de consulta de exame assim como da prova oral (vai a oral alunos com mínima de 8 para aproveitamento, e alunos com nota igual ou superior a 16 para defesa da mesma) – após a prova oral, são afixadas novas pautas, igualmente datadas, assinadas e carimbadas;
Nas provas orais na UNI é obrigatória a presença de dois docentes, podendo ambos questionar o discente.
Ora bem, no processo de Sócrates na UnI consultado pelo Público nada disto consta. São estas estranhezas que causam mossa ou frissom.
Mas, não está verdadeiramente em causa se Sócrates é ou não Engenheiro; o que verdadeiramente se questiona é a existência ou não de mentira; o que se questiona é a moralidade de alguém que pactuou com essa mesma mentira. E aqui o panorama não nada abonatório para Sócrates. Basta relembrar a campanha eleitoral que o acabou por conduzir ao poder - nada de aumento de impostos, nada de aumento da idade da reforma, manutenção do SNS, não às portagens nas SCUT's (ainda lá não chegou, mas vai), etc...
Tudo borda fora. A palavra dada nada conta. E neste caso, como diz o povo que pretende representar e governar, "Cesteiro que faz um cesto, faz um cento".
Um outro ponto importante no caso de Sócrates não é se seria bom ou mau ele ser engenheiro, mas sim se ele usou abusivamente um título que sabia não ter, motivado precisamente por uma "ridícula obsessão com títulos". Está provado que sim, e ele próprio o reconhece ao alterar a biografia oficial removendo o título. E o uso indevido de títulos académicos por quem se prove não os ter é crime punido por lei!
Acontece que as referências à sua alegada licenciatura - que, a ser verdade o que se lê no Público ou no Do Portugal Profundo - são incómodas, muito, muito incómodas porque sugerem algo de grave e inadmissível num político: a mentira, a falsidade, a ilegalidade, a desonestidade e o compadrio.
São estas as suspeições que perturbam, que incomodam e que, a não serem devidamente esclarecidas ou, pior, muito pior, a confirmarem-se deveriam impor demissão silenciosa, imediata e cabisbaixa de qualquer político.

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