10 julho, 2008

A ironia das coisas no futebol

Um texto delicioso de João Paulo Guerra no Diário Económico. A propósito de futebol, de justiça e de tretas de igualdade. Deliciosa a parte final a recordar o célebre caso Mateus, e a descida do Gil Vicente que parece já ter sido esquecido. Li algures (esta memória está cada vez pior, também), que a justiça desportiva italiana em menos de 3 meses resolveu o seu caso de corrupção, castigando a poderosa Juve com a descida de divisão e penalizando o sagrado Inter com 20 pontos negativos. No mesmo local dizia-se que a FIA (Federação Internacional de Automibilismo) retirou o título mundial de construtores de F1 à McLAren, entragando-o à Ferrari (para laém de uma multa de 15 milhõe, creio) numa reunião que durou 12 horas. A prova de espionagem feita pela McLaren sobre a Ferrari foi produzida com base em e-mails trocados e escutas telefónicas. E já tá! Nem mais. Paga e não bufa! Nem protesta nem esboceja qualquer gesto!
Mas só num país como Portugal, com leis como as que temos, com gente que vive à pala de todo este sistema, seja no futebol, na economia, na vida, é que se pode assistir a este espectáculo. A insuspeita OCDE disse em relatório há uns anitos atrás que o estado da justiça portuguesa, com a sua morosidade, burocratices, excessos de garantismos e outras patetices do género era responsável, só por si, por uma quebra de 12% do PIB! E o que é que se fez? NADA! Continua-se a dar de comer a muitos à pála de tal.
Fica a crónica de J. P. Guerra. É certamente bem melhor que esta minha prosa deslavada.

Asterisco
A diferença entre o futebol e o chamado “futebol português” é que em Portugal a bola não é redonda, não são apenas 11 de cada lado e a modalidade não se joga num campo aberto mas nas alfurjas dos interesses.
João Paulo Guerra
E é assim que, pela segunda vez nos últimos três anos, o sorteio do campeonato de futebol se faz com clubes com asterisco, que disputarão ou não a competição consoante se resolvam casos de polícia. Um caso semelhante ao do “Apito” português resolveu-se em Itália em três meses. As instâncias do futebol pediram certidões de processos judiciais em curso, julgaram, condenaram e executaram as sentenças que os arguidos acataram e cumpriram. O processo italiano começou depois do “Apito” português e os clubes castigados já cumpriram os castigos. Por cá, é o que se tem visto, pelo meio de muita poeira lançada para o ar e para os olhos da opinião pública. Por exemplo: todos os agentes da bola e dos interesses clubistas consideram agora muito natural que uma equipa e um dirigente punidos pela justiça desportiva recorram para os tribunais administrativos e interponham providências cautelares. De facto, esta deveria ser a regra pois o recurso à justiça é um preceito dos estados de direito e não há, ou não deveria haver, estados dentro do Estado em Portugal. Deveria ser a regra mas não é. Em Portugal as regras têm duas caras e os regulamentos duas faces.
E acontece que foi precisamente por recorrer aos tribunais judiciais no chamado “caso Mateus” que o Gil Vicente foi punido com a despromoção na época de 2006/2007.
Entretanto, o chamado “futebol português” conquistou um título com todo este enredo: deixou de ser uma simples vergonha nacional para passar a ser uma vergonha internacional.

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