12 março, 2008

A lição espanhola

Um texto curtinho mas muito lúcido de João Paulo Guerra, do Diário Económico. Pela sua clareza merece ser lido. Pela sua actualidade merece ser discutido. Pelo exemplo apontado merece ser seguido. Maiorias absolutas... jamais... como diria o outro!

Zapatero
O cenário político das democracias formais do Ocidente está relativamente formatado: há o partido cinzento e o partido pardo e os eleitores tiram à sorte em função de promessas e demagogia. Em Espanha, porém, há alguma diferença.
João Paulo Guerra

Zapatero governou a Espanha com maioria relativa nos últimos quatro anos e ao fim da legislatura os eleitores consideraram que governou bem. Por não ter maioria absoluta não se coibiu de avançar com medidas fracturantes. E com uma forte oposição de direita seguiu uma política social-democrata, sensível aos problemas sociais como já não se vê na quase totalidade dos partidos socialistas desta metade do mundo. O chamado socialismo, em regra, converteu-se ao neoliberalismo, enjeita a origem da sua designação, que utiliza apenas para enganar incautos podendo mesmo vir a ser acusado de publicidade enganosa ao apresentar-se como socialista simplesmente para arrebanhar votos.
Zapatero tem sido uma excepção. O primeiro-ministro de Espanha, para além de sensível às questões sociais, é um homem de diálogo. Fala com as oposições políticas, com os parceiros sociais e decide por consensos e tendo em conta as críticas. Um caso exemplar. Na hora da vitória, Zapatero prometeu prosseguir as políticas de sucesso do seu governo e corrigir os erros. Ora isto de admitir que se errou é mais uma lição para todos quantos se apresentam como infalíveis e carregados de certezas que se sobrepõem à evidência. Por fim, Zapatero tem sido um governante independente no contexto internacional, que poupou a Espanha à vergonha da vassalagem e à desonra do beija-mão.
Ou seja: a democracia social, a abertura, o diálogo e a independência não estão proíbidos nem sequer fora de moda.

3 comentários:

osátiro disse...

Não me parece que tenha sido assim.
Zapatero não dialogou com quem devia-Igreja Católica- e "dialogou" com quem não devia-ETA.
Claro que, como tinha maioria relativa, tinha que procurar acordos parlamentares para aprovar as leis. Mas isso é diferente.
E não se vê onde estão as políticas sociais:os portugueses, por exemplo,que foram trabalhar para Espanha foram bem explorados.
Zapatero beneficiou do espectacular crescimento económico de Aznar: neste momento, a economia começa a entrar em crise.
E quanto aos votos: Zapatero obteve votos dos Comunistas e da Esquerda Republicana Catalã-que perderam vérios deputados; e o PP roubou votos a Zapatero, subindo quase 3%.
E a UPD elegeu Rosa Díez, dissidente do PS.
É o começo do fim de Zapatero...

osátiro disse...

E quanto avassalagem e beija-mão,como explicar que a própria Al Qaeda garantiu que os atentados de 11 de Março visavam derrubar Aznar?
Logo, o terrorismo preferia Zapatero a Aznar!!!

Paulo Carvalho disse...

Pode ser que o PM Sócrates leia este brilhante artigo e aprenda alguma coisa.
Abraço