07 setembro, 2009

Uma questão de carácter

Talvez uma das melhores peças sobre o caso TVI - esta de Mário Crespo.
A sua conclusão é deveras demolidora:
"É indiferente se a censura o favorece ou prejudica. O importante é ter em mente que, quem actua assim, não pode estar à frente de um país livre. Para Angola, Chile ou Líbia está bem. Para Portugal não serve. "
De facto, e como disse Pacheco Pereira, quem tem o poder não pode atacar de forma despudorada um orgão de comunicação: "Quando um homem poderoso emite ou diz alguma coisa ele não está meramente a dar uma opinião, está a dar uma ordem." Ao fazê-lo está de imediato a proceder a uma censura pública; promove a interferência de alguém ou a estimular a autocensura. Qualquer uma delas configura um ataque à liberdade de pensamento. E Sócrates fê-lo em público e em vários momento - no Congresso do PS e em entrevista perante as camâras de TV, apenas para citar estes dois.
Se o que a TVI veiculava era torpe, calunioso ou falso, lesivo do seu bom nome e dignidade então para o efeito existem os tribunais (ou terá julgado em causa própria?). Mas também já se viu que quando Sócrates tentou esta via não se saiu bem - para recordar também dois casos: contra António Balbino Caldeira e João Miguel Tavares.
O que é certo é que sem a TVI (e voltando a Mário Crespo) é preciso ter a consciência de que, provavelmente (...) não haveria conclusões do caso. Não as houve durante os anos em que simulacros de investigação e delongas judiciais de tacticismo jurídico-formal garantiram prolongada impunidade aos suspeitos.
E não se tente confundir estilo com conteúdo. O estilo é de cada um! Se o conteúdo for falso - tribunal com eles. Muitos contestaram o estilo procurando com isso anular o conteúdo, mas poucos se preocuparam em contestar o conteúdo ignorando o estilo. Se calhar é porque quanto ao conteúdo não têm ponta por onde lhe pegar. E isso é o que provavelmente lhes dói.

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